O feed da rede social da sua marca é indistinguível dos concorrentes? Você está correndo para adotar cada nova ferramenta de IA que surge? Sua equipe entra em pânico quando uma trend viraliza e vocês ainda não postaram nada sobre isso?
Bem-vindo à era do "Blanding". Não. Não é o Cebolinha falando “branding”. Blanding é quando marcas distintas se transformam em clones digitais, impulsionadas pelo temor de ficar para trás.
O termo "Blanding" (fusão de "bland"/sem graça + "branding") surgiu para descrever a homogeneização alarmante das identidades de marca. Inicialmente, o fenômeno descrevia a epidemia de redesigns corporativos que resultaram em logotipos sans-serif quase idênticos, paletas minimalistas e ilustrações simplificadas.
Agora, o Blanding se expandiu para o comportamento digital das marcas, não apenas sua aparência. E a manifestação mais recente? A adesão impulsiva às trends digitais, sem qualquer reflexão estratégica.
Studio Ghibli: caso de estudo em Blanding comportamental
Nas últimas semanas, assistimos a uma demonstração perfeita desse fenômeno. Primeiro foi a trend do Studio Ghibli, com centenas de marcas utilizando IA para recriar suas identidades no estilo do famoso estúdio de animação japonês. Mal tivemos tempo de processar essa onda quando surgiu a trend de action figures, com marcas apressadamente transformando seus produtos e mascotes em brinquedos virtuais.
O resultado? Feeds que parecem uma linha de produção de conteúdo algorítmico, onde a identidade única de cada marca se dissolve em um mar de imitações.
Para entender o fenômeno do Blanding comportamental, precisamos examinar três forças psicológicas que moldam as decisões de marketing digital:
FOMO: O combustível do Blanding
O FOMO (Fear Of Missing Out) corporativo é a ansiedade coletiva que toma conta de departamentos de marketing quando uma nova trend emerge. É o medo existencial de que "todos estão falando sobre isso menos nós" ou a preocupação de que a ausência será interpretada como irrelevância.
Este medo, amplificado por métricas de engajamento de curto prazo cria um ambiente onde decisões estratégicas são substituídas por reações impulsivas. O resultado? Um feed onde centenas de marcas postam variações quase idênticas do mesmo conteúdo, no mesmo momento, para a mesma audiência já saturada.
FOBO: A paralisia da escolha estratégica
Complementando o FOMO, muitas marcas também sofrem de FOBO (Fear Of Better Options) – o medo de que exista sempre uma opção melhor, uma abordagem mais criativa ou uma execução mais viral que poderiam ter escolhido. Este fenômeno cria uma paralisia estratégica onde marcas:
- Atrasam decisões importantes por medo de não escolherem a "melhor”
- Diluem sua mensagem tentando abraçar múltiplas abordagens simultaneamente
- Abandonam iniciativas prematuramente quando surge uma opção aparentemente melhor
O FOBO leva a uma presença digital inconsistente, onde a marca persegue múltiplas direções sem se destacar em nenhuma, sempre com um olho no que poderia estar perdendo.
JOMO: A estratégia da ausência intencional
Em contrapartida, algumas marcas descobriram o poder do JOMO (Joy Of Missing Out) – a alegria estratégica de ficar de fora. É a confiança de saber que nem toda conversa cultural exige sua participação.
Marcas que abraçam o JOMO estratégico não ignoram as tendências por desconhecimento, mas escolhem conscientemente onde e como participar, baseadas em alinhamento autêntico com sua identidade.
O JOMO não é ausência por incapacidade, mas presença seletiva por estratégia.
Isso faz sentido para minha marca?
Não estamos defendendo uma posição radical contra trends, muito menos ferramentas de IA (discussão para outro momento) – ambas podem ser extraordinariamente valiosas quando utilizadas estrategicamente.
A questão central é: esta trend específica faz sentido para o que minha marca representa?
Considere uma marca de serviços financeiros que repentinamente posta uma versão Studio Ghibli de seu logo corporativo. O que isso comunica aos clientes que confiam nela para gerenciar seu patrimônio? Qual é a conexão estratégica entre essa estética e os valores da instituição?
Toda decisão de marketing tem um custo, mesmo quando a ferramenta de IA é "gratuita". Aqui estão alguns custos do Blanding comportamental impulsionado pelo FOMO:
- Diluição da identidade: Cada vez que você adota uma estética genérica, enfraquece a memória distintiva de sua marca.
- Desconexão estratégica: Recursos são desviados do plano estratégico para perseguir táticas reativas.
- Fadiga de audiência: Seu público se cansa de ver o mesmo conteúdo de todas as marcas.
- Desequilíbrio estratégico: Excesso de foco em ativação de curto prazo em detrimento da construção de marca.
- Oportunidades perdida: Cada post de trend genérica é uma oportunidade perdida de comunicar algo único sobre sua marca.
- Ciclo de dependência: Cada participação reativa fortalece a sensação de que a próxima trend não pode ser perdida.
Do FOMO ao JOMO
Transformar o FOMO em JOMO estratégico não significa isolamento ou irrelevância. Pelo contrário, representa uma abordagem mais consciente e intencional:
FOMO - "Todos estão fazendo isso, precisamos fazer também!"
JOMO estratégico - "Entendemos a tendência, mas escolhemos participar apenas onde podemos adicionar valor único."
O JOMO estratégico não é ignorância, mas sim conhecimento profundo do que sua marca representa e confiança para fazer escolhas alinhadas a essa identidade.
E para não dizer que não falei das flores IAs. O problema não está nas ferramentas de IA – que são extraordinariamente poderosas para amplificar a criatividade e produtividade. A questão é como elas são empregadas.
A diferença está entre:
Uso reativo (FOMO-driven): "Esta IA está gerando imagens Ghibli. Precisamos fazer isso também!"
Uso estratégico (JOMO-informed): "Como podemos utilizar IA para expressar nossa essência de marca de formas que seriam impossíveis sem esta tecnologia?"
No primeiro caso, a ferramenta determina o conteúdo. No segundo, a estratégia de marca determina como a ferramenta será utilizada.
Conclusão
Em um cenário de homogeneização crescente impulsionado pelo FOMO coletivo, a verdadeira vantagem competitiva pertence às marcas com coragem de praticar o JOMO estratégico – a alegria consciente de ficar de fora quando a participação não reforça autenticamente sua identidade.
Parafraseando Seth Godin: "Na busca pela aceitação de massa, perdemos o que nos faz especiais. Ser facilmente substituível não é um atributo que vale a pena perseguir."
O antídoto para o Blanding não é rejeitar tendências ou tecnologias, mas abordá-las com intencionalidade estratégica.
As marcas verdadeiramente memoráveis não são aquelas consumidas pelo medo de ficar de fora, mas aquelas que encontraram a alegria estratégica de estar presentes apenas onde podem ser autenticamente elas mesmas – inconfundivelmente únicas em um mar de semelhança.
Se quiser conversar mais sobre esse ou outros assuntos é só me mandar uma mensagem.